Este domingo, quarto do Tempo Comum, precede o Dia do Consagrado neste ano especial dedicado a eles. Tive a oportunidade de celebrar neste domingo a consagração perpétua dos primeiros membros da Fraternidade São Francisco na Providência de Deus, nascida na querida Diocese de São José do Rio Preto. O centro da liturgia deste domingo, assim como o centro da consagração religiosa, é Jesus Cristo Nosso Senhor. Ele, o novo Moisés que vem para libertar o homem de suas amarras e de suas escravidões, como a Palavra nos anuncia, ao mesmo tempo nos recorda que muitos se entregam ao Senhor colocando toda sua vida e tempo pela causa do anúncio do Evangelho.
Na primeira leitura escutamos o que Deus mesmo prometera pela boca de Moisés: “O Senhor teu Deus fará surgir para ti, da tua nação e do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás escutar”! Eis Moisés, o grande líder e libertador de Israel, aquele através do qual Deus falava ao seu povo e lhe dera a Lei, que anuncia que Deus suscitará um profeta como ele. E os judeus esperavam esse profeta. Chegaram mesmo a perguntar a João Batista: “És o Profeta”? (Jo 1,21), isto é, “És o Profeta prometido por Moisés”?
Pois bem, caríssimos: esse Profeta, esse que é o Novo Moisés, esse que é a própria Palavra de Deus, chegou: é Jesus, nosso Senhor! Como Moisés, Ele foi perseguido ainda pequeno por um rei que queria matar as criancinhas; como Moisés, Ele teve que fugir do tirano cruel; como Moisés, sobre o Monte – o das Bem-aventuranças – Ele deu a Lei da vida ao seu povo; como Moisés, num lugar deserto, deu ao povo de comer, não mais o maná que perece, mas aquele pão que dura para a vida eterna. Como nos recordam as escrituras: “porque a Lei foi dada por meio de Moisés, mas a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1,17). Jesus é a plenitude da Lei de Moisés, Jesus não é somente um profeta, mas é o próprio Deus, Senhor dos profetas. Jesus, caríssimos, é a própria Palavra do Pai feita carne, feita gente, habitando entre nós!
A Palavra a nós proclamada hoje mostra o Senhor ensinando. O Evangelho nos dá conta de que seu ensinamento causava admiração (Mc 1, 21-28). Ao narrar a ida de Jesus à Sinagoga de Cafarnaum, conta que Ele “começou a ensinar” e os seus ouvintes “se maravilhavam… porque ensinava como quem tem autoridade”. Até o espírito impuro, presente num homem, se dá conta da Sua presença e, enquanto grita, não deixa de reconhecer em Jesus “o Santo de Deus”. Ao expulsar o demônio, libertando o possesso, todos ficam maravilhados e dizem: “Que é isto? Eis uma nova doutrina e feita com tal autoridade que até manda nos espíritos impuros, e eles obedecem-lhe”.
Desde a chegada de Cristo, o demônio bate em retirada, mas “a sua presença torna-se mais forte à medida que o homem e a sociedade se afastam de Deus” (São João Paulo II); devido ao pecado mortal, não poucos homens ficam sujeitos à escravidão do demônio, afastam-se do Reino de Deus para penetrarem no reino das trevas, do mal; convertem-se, em diferentes graus, em instrumento do mal no mundo e ficam submetidos à pior das escravidões.
O pecado mortal é a pior desgraça que nos pode acontecer. Quando um cristão se deixa conduzir pelo amor, tudo lhe serve para a glória de Deus e para o serviço dos seus irmãos; os homens e as próprias realidades terrenas são santificados: o lar, a profissão, o esporte, a política… “Pelo contrário, quando se deixa seduzir pelo demônio, o seu pecado introduz no mundo um princípio de desordem radical, que afasta do seu Criador e é a causa de todos os horrores que se aninham no seu íntimo. Nisto está a maldade do pecado: em que os homens, tendo conhecido a Deus. não O honraram como Deus nem lhe renderam graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato… Trocaram a verdade de Deus pela mentira e adoraram e serviram à criatura em lugar do Criador, que é bendito pelos séculos” (Rm 1, 21-25).
A Palavra não é somente voz, sopro saído da boca. Esta Palavra, que é Jesus, é tão potente (lembrem-se de que tudo foi criado através dela!) que não somente fala, mas faz a salvação acontecer. Por isso, os milagres de Jesus, suas obras portentosas: para mostrar que Ele é a Palavra eficaz e poderosa do nosso Deus. Ao curar um homem atormentado na Sinagoga de Cafarnaum, Jesus Nosso Senhor mostra toda a sua autoridade, seu poder e também o sentido de sua vinda entre nós: Ele veio trazer-nos o Reino de Deus, do Pai, expulsando o reino de Satanás, isto é, tudo aquilo que demoniza a nossa vida e nos escraviza.
“Obrigado, Senhor, Jesus, pela tua vinda! Obrigado pela tua obra de libertação! Muito obrigado porque, em ti, tudo é Palavra potente: tua voz, tuas ações salvadoras, teu modo de viver, teus exemplos, tuas atitudes! Tu não somente tens palavras de vida eterna; tu mesmo és a Palavra de Vida! Obrigado! Dá-nos a capacidade de escutar-te sempre”!
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)